Florânia

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Cidade Maravilhosa

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Fé e Devoção

                                                        José Leão




    A História de José Leão é cercada por muitos mistérios como sua própria morte que desperta no nosso povo vários sentimentos, como a  devoção por exemplo. Ninguém pode afirmar ao certo o que é verdadeiro nesta saga.

    O episódio envolvendo José Leão aconteceu no fim do século XIX, numa região tipicamente agropecuarista, com uma população de 3.630 habitantes (População do Seridó segundo o historiador seridoense José Augusto), em pleno Ciclo do Couro. Sua morte ocorreu quando a população de Flores se organizava economicamente e inaugurava um marco  religioso no ano de 1866,  a construção da  Capela de São Sebastião. No ano de 1873, foi  criado o Distrito Policial na Vila de Flores. A sociedade era tipicamente organizada sob o poder dos latifundiários e do coronelismo.

A história que narra o assassinato de José Leão é de cunho religioso, pois ganhou no decorrer do tempo, proporções míticas,  sendo também uma  produção do pensamento e da oralidade dos mais velhos, que  sempre contam carregadas de subjetividade. Acrescenta-se ao fato, sentimento de revolta do povo pela barbaridade do crime, de piedade pelo fato deste ter sido martirizado, e de indignação, pois nada se sabe sobre o que ocorreu aos culpados pelo crime.
    Conta-se que José Leão era filho de Josefina de Souza Leão e José de Souza Leão. Ele veio de Pernambuco para a Vila de Flores procurar por terras de seus pais, e chegando à Vila, ele descobriu que o fazendeiro João Porfírio havia ocupado suas propriedades e não pretendia devolvê-las. A conseqüência  de tudo isso, foi um conflito no qual o resultado foi o fim brutal da vida do jovem José Leão.
O INÍCIO DO CONFLITO

    Havia na Vila de Flores um senhor de nome João Toscano de Medeiros, conhecido como Joca Toscano que recebera patente do então presidente da república Floriano Peixoto. Rico latifundiário, intendente da vila que administrou a comunidade por trinta e três anos, deu total cobertura a João Porfírio e ordenou que se organizasse uma emboscada para matar José Leão.

    Nessa emboscada, uma mão de pilão e uma faca peixeira foram usadas como armas. A primeira arma, para  bater na cabeça e a segunda para retalharem o seu corpo. Também foi feita uma grande fogueira, na qual depois de retalhado, o corpo de José Leão foi jogado. Não se sabe ao certo quantas pessoas participaram da emboscada.

A MORTE

    A morte de José Leão aconteceu no dia 20 de Janeiro do ano de 1877. Era dia de São Sebastião, que se festejava na cidade como padroeiro contra a peste a fome e as guerras. As pessoas que já sabiam do conflito, tomaram conhecimento do acontecido devido à presença do cavalo de cor  branca pertencente ao jovem José Leão.

ACONTECIMENTOS PÓS MORTE DE JOSÉ LEÃO

      Depois da  morte deste jovem ocorreu vários fatos estranhos com aqueles que contribuíram para a execução do crime.  Pouco tempo depois, a morte de duas filhas de João Porfírio, Ana e Tereza, causada por a queda de raio em seu quarto, no sítio Fechado despertou na comunidade um sentimento de "castigo". A morte de um jagunço que participou da emboscada  que mesmo tomando um pote de água, morreu de sede. Uma morte misteriosa. Os curiosos narravam que quando José Leão estava sendo queimado, pedia água e este jagunço negava. Várias mortes de suicídio na família Toscano também serviram para a formação de um pensamento coletivo sobre   o fato.

     Tratando-se da família Toscano, foi denominada pelas pessoas que se revoltaram com a tragédia, como a  Família dos Mata e Queima. Esta denominação perdura até nossos dias. Conta-se que a tragédia repercutiu nacionalmente. No estado do Ceará, o Padre Cícero do Juazeiro, negava receber esta família e orientava a seus fiéis que lhes negassem água de beber. 

AS OFERENDAS DE DEVOTOS A JOSÉ LEÃO

    Por acreditarem que José Leão teria se tornado "Santo" pelos fatos ocorridos depois de sua morte, pessoas tornaram-se devotas dele, passando a oferecer objetos como sinal de gratidão por votos alcançados e como sinal de fé. As oferendas constam de água, pedras, ex-votos (esculturas em madeira, gesso e  bonecos de pano, retratando partes do corpo dos fiéis), além de velas, flores e fotografias.

    No local da execução, foi construída uma capela que até hoje é visitada por pessoas de várias partes do país.

    Em entrevistas realizadas, podemos presenciar que esta história, embora perdida no tempo, não está esquecida,  ela faz parte do imaginário do nosso povo.

   Segundo a pesquisadora Ana Maria de Azevêdo Souza, existem duas versões sobre o motivo da morte do José Leão.

 -"A primeira diz que foi um romance dele com a filha de um fazendeiro da região. O pai da moça para lavar sua honra, teria mandado matá-lo. 

     A Segunda versão, diz que ele foi morto por causa de suas ricas terras, que despertava a inveja de alguns. Ele foi abordado por vários homens que o amarraram e jogaram numa grande fogueira. Devido o corpo pular para fora do fogo, os jagunços resolveram retalhar todo seu corpo. Depois jogaram novamente na fogueira, finalizando a execução.  Algum tempo depois, foi descoberto que quem tinha mandado matar José Leão havia sido o fazendeiro João Porfírio. Descobriram isso porque sempre todas as noites ele ia até o local do crime, fazendo assim seu ato de arrependimento. Quanto à crença, eu tenho uma história de vida. Tinha uma doença denominada esporão de galo, que faz com que o osso do pé cresça. Com a doença comprovada, a solução seria uma cirurgia, então pedi a intercessão de José Leão e fui atendida". Ana Maria de Azevedo Souza, 43 anos de idade. É poetisa, pesquisadora e escritora.



























Fonte: http://www.inforside.com.br/noticias.aspx?id=11&sectionID=7

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